terça-feira, 30 de novembro de 2010

Erros .

E enquanto ela caminhava, as lágrimas lhe corriam pela face. 



A cicatriz em seu rosto lhe machucava o orgulho: mais fundo que parecia, o corte atravessara sua alma cinzenta e deixara marcas em lugares obscuros. Mas mesmo asssim, ela continuava a chapinhar nas poças, com um ar infantil e inocente. Ria-se sozinha.

Debaixo da chuva, seus cabelos perderam os cachos. Seu batom borrara, ainda à espera do beijo prometido. Lágrimas negras de tinta. Vestido rasgado pelos espinhos da estrada que não termina.

Seu único erro fôra se apaixonar. Pela pessoa errada, na hora errada, no tempo errado. E só. Mas agora não há mais volta.



 Passos em poças. Fundas. Muito fundas. 
                                                    E o som das lágrimas caindo ao chão.        

domingo, 28 de novembro de 2010

That Night .

                                                                                                     To Philip Kubiske


 E, repentinamente, o vazio se instala.
                                                          Cessam-se os risos, as risadas, os sorrisos.     
As luzes se apagam.
O silêncio invade a cena: a Razão se esvai, levando consigo as últimas chamas de        
inocência e gotas de pureza.
As cortinas se abrem e passam a revelar uma escuridão sem fim.
Os violinos, as vidas e os violoncelos não sustentam mais a melodia . Eles se calam e    
calam ao mundo.
Das teclas do piano, afanado por um querubim maltrapilho, tudo se torna sustenidos e  bemóis. 
O nada e a luz se intercalam, compondo uma sinfonia sem nexo.
O compasso se perde então, em meio ao silêncio da platéia.
A voz se cala.
Muda.
Seca.
Faminta e sedenta.
Acaba por devorar a si mesma, após um turbilhão tardio de luzes que teimam em sobreviver ao inevitável.

Now, when I close my eyes, I still can feel the cold wind of that night.
Yeah, sometimes I just get sick of people.
Thanks for sitting by my side that night. You understood me and I just knew that I could count on you, my photographer.  <3

sábado, 27 de novembro de 2010

Lá .

Às vezes desejava apenas poder desaparecer.
 
Esquecer de tudo ao redor e fugir. Longe, para bem longe, até que as pernas cansassem e a mente, esgotada, não controlasse mais o corpo.
Encontrar uma caverna, onde os sons do mundo soassem apenas como uma melodia de
fundo.
Esquecer os problemas, esquecer as pessoas e girar. Girar até a cabeça pender  e cair ao
chão frio da minha caverna. Dormir nas entranhas da escuridão. Pingos de chuva do lado de fora.
Por que se torna tão difícil esquecer? Por que parece tão errado?

O relógio insiste em  marcas horas que não são minhas. 
 E o tempo passa sem se fazer notar. Algumas vezes , tão rapidamente, que leva tudo consigo enquanto nos deixa sós.
Adiantou alguma coisa? Esses milésimos de eternidade se esvairam em cinzas. As mesmas que até hoje nos sufocam e causam essa letargia sem fim.
O teu sempre não durou o todo e o amor que prometias não passava de palavras vazias. Estas, sabias proferir muito bem, mas não eram nada em comparação ao que realmente se instalou entre nós.
Valeu a pena? Talvez. Apenas se assim o desejarmos. Mas a lembrança fere, maltrata e
desmerece então ainda a contemos no fundo de nossas almas. Deixa-lo-emos-a intacta para que no futuro possamos avistá-la através da fina bruma que cerca as lembranças intocadas.
Talvez em alguma lugar ainda cantes para mim e poderemos abrir, juntos, a frágil porcelana que protege o nosso passado.
 
Enquanto isso, apenas tento [em vão?] fugir da realidade que me persegue  e procuro
refúgio nas cavernas que aparecem à minha frente.
Dessa vez esqueci o relógio do lado de fora. 
Mas só dessa vez.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Introdução para o fim .

Não me ligue mais.
Eu já não quero mais ouvir 
                                sua voz.
O que você fez não se faz.
E o tempo necessário
                               já se foi.
Meus olhos continuam inchados em dor.
Minha voz, fraca, 
                              já não sai.
Foi só o tempo que passou e errou,
E deixou o nosso amor para trás.
Minha mente em rodamoinho,
Se perdeu,
                     Se esqueceu.
Não achou mais o caminho,
                                  Seu amor já não é meu.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Hoje .

      Há certos momentos que deveriam sumir, mas que permanecem na memória.

                                                                                                                              Para Thauã Marques

Há outros momentos que necessitam ser lembrados, mas a memória, como piadista e humana que é, tende a  trocá-los por angustiantes lacunas de branco, as quais, na maior parte das vezes, se tornam nossos maiores algozes. No momento em que mais necessitamos lembrar, tudo se torna tão confuso que é difícil diferenciar se algo aconteceu de verdade ou é apenas fruto de uma imaginação fértil e carente. Esses se tornam os momentos mais angustiantes, quando nossos sonhos se entrelaçam com a realidade e o mundo em que estamos não passa apenas de uma projeção do nosso eu interior.
-É tão dificíl lidar com o nosso dia-a-dia quando percebemos que  aquela nossa realidade ficou para trás, em nossas casas, juntamente com a cama e o cobertor e que aqui fora não é tudo tão perfeito assim. 

O dia estava estranho, a brisa soprava fria e minhas mãos estavam geladas. Chovia lá fora. Em casa, escondida, fazia minha própria chuva, agarrada a um travesseiro. As gotas do céu caiam de meus olhos, nublados como as nuvens do mundo exterior. Estava tudo tão bagunçado e confuso que se perguntava se não estava apenas imaginando coisas. 
Ele pediu para lhe falar. Depois de tanto tempo e de tantas coisas. Depois de partir e trocá-la por outros lábios, outras canções. Ela apenas observava, sem poder esboçar nenhuma reação e  tirá-lo dos braços que já não eram dela. Mas isso já passou.
Pediu desculpas. Talvez a amasse? Nunca saberá. E a partir daí a memória brinca de preencher espaços com o nada, restando apenas dúvidas em relação a tudo. 
E agora? Foi realidade ou apenas fruto do mundo dos sonhos? 
Ela teve a impressão que lhe foi dito que ele irá voltar, que a procurará e fez disso uma promessa. Mas poderá ela confiar em lembrança tão dispersa e tão perfeita?
Por via das dúvidas, neste mundo ou apenas na minha mente, irei aguardar. Talvez um dia se encontrem, nesse plano ou em outro e trocarão então as palavras e os gestos que se calaram e se mantiveram quietos todo esse tempo.

Cumprirás tua promessa? Não sabe.
Partirás seu coração novamente?
Provavelmente.



Mas já não importa.
 
   

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Últimos dias [?] .

Hoje foi o último dia  de uma outra fase de sua vida. Uma fase marcada por decepções e vitórias, lágrimas e sorrisos. Sentirá falta. Se arrependerá, talvez, mas isso será a menor de suas preocupações. E os últimos dias sempre são marcados por algo inesperado. Uma carta. Uma rosa. Um final. Sempre, sempre. 

A luz foi embora. O sentimento de despedida estava presente em cada canto do colégio. Ano que vem tem mais, mas esse ano e tudo que ele representou termina por aqui. As novas amizades, as velhas, as descobertas. As paixões e o ódio. Os opostos que nos sustentam e fazem esse mundo girar. Mudaria as coisas? Talvez sim. Talvez não. Apenas se conforma que tudo isso se tornou necessário de alguma maneira. Apesar de machucar, a dor passa, não é mesmo? As cicatrizes ficam , mas a dor passa. Simples assim.

As marcas que ficam.
   A dor que passa.  
      As lágrimas que secam.
        O riso que cala. 
             É tarde. É tarde. É tarde. 

Ouves? É o tempo nos sussurrando que ainda temos uma longa jornada a enfrentar.
                                                                        Ou não.