domingo, 1 de janeiro de 2012

Estação Verão .

A noite estava abafada e eu me sentia sufocada. Saio de casa na esperança de encontrar um lugar confortável e ventilado. Caminho por algumas ruas a esmo. Já é tarde, mas continuo mesmo assim. Preciso esvaziar minha mente e meus pés me guiam até a praia. E lá está ele: a minha frente, o mar me engole em sua imensidão. A brisa marinha sopra de modo confortador e me despenteia as finas medeixas. Sento-me na areia. A respiração parece voltar ao normal. 
Tiro minhas sandálias de couro e enterro meus pés nos grãozinhos sem fim. A alguns metros observo um castelo de areia parcialmente destruído. O mar está calmo. Fecho meus olhos e a brisa percorre todo meu ser. Enxugo alguma gotas de suor que ainda tentam em escorrer devido à época do ano e a caminhada. Deito-me na areia e fico a olhar as estrelas novamente, como há muito tempo não fazia, desde a última primavera. Viro meu rosto e ao meu lado se encontra uma concha que à primeira vista não estava lá. Estranho. Podia ter certeza que ela não estava ali antes. 
Pego-a com minha mão esquerda e lhe sussurro um segredo.

-    Tenho esperanças que um dia você ouça as palavras que lhe confidenciei.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Estação Inverno .

Esqueci de escrever novamente seu nome na neve que cobre a varanda. A temperatura caiu bastante e as luvas já não são suficientes para aquecer e confortar. Onde foi parar a mão que segurava a minha e me mantinha mais calma no frio? Dessa vez esquecemos de acender a lareira e a madeira umedeceu. A estrada está vazia.
Caminho descalça pela sala fria e meus pés reclamam. A cortina da janela se move e o vento frio que se faz penetrar substitui o ar abafado do último outono que passou. Voltou a nevar.
Sento em frente à janela e observo os flocos de neve que caem mansamente, formando um tapete branco imóvel que cobre carros, casas e o que mais encontrar pela frente. O boneco de neve que construímos me encara. Engraçado. Ele parece sorrir para mim. Deve estar se lembrando dos nosso momentos juntos e das infindáveis guerras de neve, dos anjos que desenhamos no chão. 
Boneco besta. Sorrio também.
A gélida brisa fere meu rosto e o nariz fica vermelho. Fecho a janela e vejo os pontinhos brancos por detrás do vidro transparente.
Pequenos flocos de neve caem na janela agora fechada. 
E olhando bem de perto - ou estarei enganada ? - as partículas de branco não desenham pequenas estrelas?

-Enquanto isso, a xícara de chocolate esfria na cozinha.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Estação Outono .

As folhas amareladas lá fora formam montes indefinidos. 
O mundo do outro lado do vidro parece cativado por uma melancolia singela.
Sentada na escrivaninha, com as mãos manchadas do nanquim que teimam em pintar tudo,
divago. 
As palavras se confundem e tomam conta do papel, da pele, das paredes, de tudo. 
Rabiscos ininteligíveis permeiam o quarto, 
a sala, 
a cozinha.
Os olhos estão vermelhos. As nuvens lá fora não derramam a chuva que invade o quarto
- tinta e lágrimas.
A pia da torneira pinga, os olhos olham e o nanquim borra.
O vento bate, as folhas se mexem na perseguição de um carrossel sem fim.
O calendário parou. Os ponteiros também. Tudo isso desde que você partiu. Já faz tempo. Muito tempo.
A chama da lareira acesa por causa de uma pequena friagem se apagou. O cheiro de madeira queimada paira no ar como uma interrogação: o que faço aqui?
Novamente falando insanidades. Estou divagando.
Minhas folhas caem, virei outono. 
E minhas folhas teimam em cair com a água que verte de meus olhos:
tantas, 
infindas, 
é outono.
                                                                                                                      

terça-feira, 27 de setembro de 2011

It's over now .

Stop, stop calling my name
You know, it isn't my fault
And with no one else to blame
You drop the guilty from your hands to the floor

Now that's over you want it back
Now that's lost, you're looking for it
But now that's broken, there's no repair
We are done

Don't you dare knock on my door again
Don't disturb my rare moments of peace
I'm so sorry but now I just can't handle it
You're out of me

The letters now are on fire
The gifts you bought have turned into pieces
The memories now are completely over
Sent to hell your promises and kisses

And don't you try to follow me
I ran as much as I could
And the path behind me disappeared
Covered with the ashes as it should
Of our love

Don't you dare knock on my door again
The love is dead, it was murdered
By your constant and fucking lies
Couldn't you see it would end like this?
Too late, goodbye

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Calei - doscópio .

Gira e roda
Turva e clara
Os lábios calam 
A alma acalma

Anti-gira anti-roda
Bocas multicoloridas
Nos esparmos delirantes
Nas falas não interrompidas

Não gira, mas roda
E põe-se a cair, retorna
A sobressair com um salto
Cores, auto-cores, bolores parados

Arroda gira, agira roda
Nas formas deformadas
Das pinturas infantis
Das obscenidades abstratas
Não roda, mas gira
Mistura
Tons de vidro
Loucura

Girarroda
E eu me calo
Rodagira

Alguém mais viu as luzes?