E eu fico pensando nos sapatos.
Não os pares que ainda estão selados em um caixa ou expostos em uma vitrine qualquer. Não aqueles ainda sem um destino definido, mas sim aqueles sapatos que encontro ao léu nas ruas, aqueles que perderam suas caras - metades, os quais os dono - por um acesso de fúria talvez - resolvem percorrer o resto de seus caminhos no contato pele - chão.
Eu fico pensando nesses sapatos e sandálias que abandonam seus usuários durante a dura caminhada da vida. Eu vejo os saltos quebrados, as fivelas partidas e tiras soltas.
Eu vejo a lama, o barro, as cicatrizes que o viver traz. Eu imagino noites melhores, nas quais esses companheiros - com o perdão do trocadilho - não largaram de nossos pés, bailaram e valsaram a noite e viraram a madrugada.
Eu imagino as trilhas e as aventuras por quais passaram.
Eu imagino quantos não foram usados - estrategicamente! - como armas de poder, sedução e status.
Eu penso em todas as experiências compartilhadas, tudo que eles viram e ouviram, seja debaixo da cama ou até mesmo em cima da mesa de jantar.
Lamento como a maioria perdeu seu par para a boca salivante de um vira - lata qualquer. Eu olho esses sapatos e imgino dias melhores, antes de se tornarem meros calçados perdidos nas ruas.
Acho que às vezes me sinto como um sapato abandonado.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSapatos são belos hj, são inúteis amanhã, você é muito mais do que um sapato abandonado. Muito bom o texto, mas, você além de uma bela garota é uma bela escritora e não um sapato qualquer abandonado, você é além desse tempo e espaço.
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