sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Estação Inverno .

Esqueci de escrever novamente seu nome na neve que cobre a varanda. A temperatura caiu bastante e as luvas já não são suficientes para aquecer e confortar. Onde foi parar a mão que segurava a minha e me mantinha mais calma no frio? Dessa vez esquecemos de acender a lareira e a madeira umedeceu. A estrada está vazia.
Caminho descalça pela sala fria e meus pés reclamam. A cortina da janela se move e o vento frio que se faz penetrar substitui o ar abafado do último outono que passou. Voltou a nevar.
Sento em frente à janela e observo os flocos de neve que caem mansamente, formando um tapete branco imóvel que cobre carros, casas e o que mais encontrar pela frente. O boneco de neve que construímos me encara. Engraçado. Ele parece sorrir para mim. Deve estar se lembrando dos nosso momentos juntos e das infindáveis guerras de neve, dos anjos que desenhamos no chão. 
Boneco besta. Sorrio também.
A gélida brisa fere meu rosto e o nariz fica vermelho. Fecho a janela e vejo os pontinhos brancos por detrás do vidro transparente.
Pequenos flocos de neve caem na janela agora fechada. 
E olhando bem de perto - ou estarei enganada ? - as partículas de branco não desenham pequenas estrelas?

-Enquanto isso, a xícara de chocolate esfria na cozinha.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Estação Outono .

As folhas amareladas lá fora formam montes indefinidos. 
O mundo do outro lado do vidro parece cativado por uma melancolia singela.
Sentada na escrivaninha, com as mãos manchadas do nanquim que teimam em pintar tudo,
divago. 
As palavras se confundem e tomam conta do papel, da pele, das paredes, de tudo. 
Rabiscos ininteligíveis permeiam o quarto, 
a sala, 
a cozinha.
Os olhos estão vermelhos. As nuvens lá fora não derramam a chuva que invade o quarto
- tinta e lágrimas.
A pia da torneira pinga, os olhos olham e o nanquim borra.
O vento bate, as folhas se mexem na perseguição de um carrossel sem fim.
O calendário parou. Os ponteiros também. Tudo isso desde que você partiu. Já faz tempo. Muito tempo.
A chama da lareira acesa por causa de uma pequena friagem se apagou. O cheiro de madeira queimada paira no ar como uma interrogação: o que faço aqui?
Novamente falando insanidades. Estou divagando.
Minhas folhas caem, virei outono. 
E minhas folhas teimam em cair com a água que verte de meus olhos:
tantas, 
infindas, 
é outono.
                                                                                                                      

terça-feira, 27 de setembro de 2011

It's over now .

Stop, stop calling my name
You know, it isn't my fault
And with no one else to blame
You drop the guilty from your hands to the floor

Now that's over you want it back
Now that's lost, you're looking for it
But now that's broken, there's no repair
We are done

Don't you dare knock on my door again
Don't disturb my rare moments of peace
I'm so sorry but now I just can't handle it
You're out of me

The letters now are on fire
The gifts you bought have turned into pieces
The memories now are completely over
Sent to hell your promises and kisses

And don't you try to follow me
I ran as much as I could
And the path behind me disappeared
Covered with the ashes as it should
Of our love

Don't you dare knock on my door again
The love is dead, it was murdered
By your constant and fucking lies
Couldn't you see it would end like this?
Too late, goodbye

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Calei - doscópio .

Gira e roda
Turva e clara
Os lábios calam 
A alma acalma

Anti-gira anti-roda
Bocas multicoloridas
Nos esparmos delirantes
Nas falas não interrompidas

Não gira, mas roda
E põe-se a cair, retorna
A sobressair com um salto
Cores, auto-cores, bolores parados

Arroda gira, agira roda
Nas formas deformadas
Das pinturas infantis
Das obscenidades abstratas
Não roda, mas gira
Mistura
Tons de vidro
Loucura

Girarroda
E eu me calo
Rodagira

Alguém mais viu as luzes?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Tardes de Julho .

15.07.2011

O ar estava abafado e a tarde prometia aventuras. As cores daquele dia se misturaram como tintas na paleta de um pintor descuidado. E resultaram, inesperadamente, em um tom amarelo. É óbvio que existem vários dias amarelos em um ano, mas aquele em particular se destacava dos demais. Era um amarelo tão diferente e intenso que se tornava difícil até mesmo manter os olhos abertos por muito tempo sem ser ofuscado. Era um amarelo incomum, parecido com os loucos girassóis de Van Gogh. Imensos. Colossais. Invasores. Assim como teus olhos .





- Em slow-motion, o filme se desenrola e a câmera foca em dois corpos deitados na grama. Os olhos escuros dela voltados para o céu. Os olhos claros dele, idem. As mãos permaneciam entrelaçadas e nada mais existia ao redor. Apenas a grama verde, o céu azul e o dia amarelo. E com os sorrisos estampados em seus rostos, não era necessário dizer mais nada.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ordem .

     
                                          Despetala-te em mil faces
                                                                                    - Todas brandas e nuas.

                                         Dispa-te de teus nomes
                                                                                   - Todos iletrados e ininteligíveis.

                                        Despeça-te do ontem, do hoje e do amanhã
                                                                                   -  Possuis só e apenas o momento.

                                        Desenterra-te de teus pesadelos
                                                                                   - Cava mais fundo. 



                                                                   Desfaz-te em amor.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sapatos .

 E eu fico pensando nos sapatos. 



Não os pares que ainda estão selados em um caixa ou expostos em uma vitrine qualquer. Não aqueles ainda sem um destino definido, mas sim aqueles sapatos que encontro ao léu nas ruas, aqueles que perderam suas caras - metades, os quais os dono - por um acesso de fúria talvez - resolvem percorrer o resto de seus caminhos no contato pele - chão. 
Eu fico pensando nesses sapatos e sandálias que abandonam seus usuários durante a dura caminhada da vida. Eu vejo os saltos quebrados, as fivelas partidas e tiras soltas. 
Eu vejo a lama, o barro, as cicatrizes que o viver traz. Eu imagino noites melhores, nas quais esses companheiros - com o perdão do trocadilho - não largaram de nossos pés, bailaram e valsaram a noite e viraram a madrugada. 
Eu imagino as trilhas e as aventuras por quais passaram. 
Eu imagino quantos não foram usados - estrategicamente! - como armas de poder, sedução e status. 
Eu penso em todas as experiências compartilhadas, tudo que eles viram e ouviram, seja debaixo da cama ou até mesmo em cima da mesa de jantar. 
Lamento como a maioria perdeu seu par para a boca salivante de um vira - lata qualquer. Eu olho esses sapatos e imgino dias melhores, antes de se tornarem meros calçados perdidos nas ruas.


Acho que às vezes me sinto como um sapato abandonado.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Labirinto .

Ela se perdeu novamente. Tinha a impressão de estar andando em círculos ininterruptos. Estava anoitecendo e o sentimento de solidão novamente se instalava, agarrando-a com ternura como uma mãe ao embalar sua criança. Ela corria, não sabia de quê nem para onde. Apenas corria enquanto desejava que seu corpo não deixasse de colaborar.  A respiração se tornava cada vez mais pesada e difícil. Apesar do intenso esforço físico, ela sentia frio. No céu, aparece a primeira constelação. Ela pára, apóia-se naquelas paredes intermináveis de verde e sofrega. Seus olhos se elevam do plano terreno e encontram o céu. O verdadeiro céu e suas verdadeiras estrelas. A lua ainda se escondia, como uma dama a fugir de um cavalheiro que a corteja. Ela respira fundo e continua correndo. O caminho parece sem fim e é na realidade, afinal, bons labirintos são contruídos para se tornarem infindáveis e sem saída. A sede se torna insuportável e  os músculos começam a padecer. E agora está ficando cada vez mais tarde. 


- Onde está a saída?

quinta-feira, 31 de março de 2011

Voz .

Lá está a voz.
                               - Só desejo ajudar.
                              Sentar ao seu lado e segurar-lhe mão.
                              Cantar-lhe uma cantiga de ninar e esperar que
                              depois de tanto tempo no escuro,
                              você consiga encostar sua cabeça em meu ombro
                                                                      -  descansar e dormir.
                              Ficar ali, enquanto uma garoa fina desponta da lua cheia.
                              Querer que você encontre um pouco de paz. 
                              Gostar de ouvir sua respiração perder a cadência e torna-se lenta, quase um sussurro.
Nada mais.
                              Apenas assistir seu arfar silencioso,
                              o movimento de sobe-desce de seu peito 
                              e saber que finalmente conseguiu encontrar um pouco de felicidade.
                              Não aqui ao meu lado. Eu compreendo.
                              Os seus sorrisos estão em algum lugar distantes daqui.
                              Nãome importo em ser apenas uma voz distante.
                              Content0-me com isso.
                                                                      - E isso me faz estranhamente feliz.
                             Ver-te seguir sozinho e forte é apenas o que desejo.
                             Mas se tudo novamente se tornar solidão
e você precisar de um ombro amigo para recuperar as energias,
apenas siga sua voz.
                             Eu estarei cantando a mesma cantiga.
                             No mesmo canto da sala.
                                                                                                                                      
                       - Eu estarei sempre esperando por você.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eu .

Eu?          Eu escondo meus sentimentos a maior parte do tempo, mas já me acostumei a ser enganada por mim mesma.  Às vezes falo quando o silêncio era o único som que deveria ser ouvido e me calo quando as palavras realmente se tornam necessárias.  Eu escrevo poemas que não rimam e cartas que nunca serão entregues.  Tenho sonhos, mas também tenho pesadelos - e os primeiros geralmente são os que me assustam mais.  Eu tenho medo de não conseguir tudo o que quero na vida.  De no final tudo dar errado.  Tenho vontade de me perder e nunca mais me encontrar.  Fugir para bem longe, atravessar oceanos e desertos e descobrir segredos escondidos em lugares que só existem em minha cabeça.  Eu espero por um prícipe encantado que talvez nunca venha - a criança dentro de mim ainda acredita em contos de fada.  Eu me sinto vazia às vezes como se nada mais nessa vida fizesse sentido.  E talvez realmente não faça.  E enfim descobrirei que não perdi meu tempo enquanto admirava as estrelas.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Outside .

Enquanto estiveres comigo
não prestes atenção no meu sorriso.
Esse sorriso cálido de criança perturbará sua sã consciência e, depois de breves segundos, te fará enxergar
                                                     os mais profundos abismos da alma.

Enquanto estiveres comigo

não dê tanta atenção às minhas palavras.
Às vezes elas carregam veneno da melhor qualidade
                                            - machuco sem pudor e divirto-me com isso.

Enquanto estiveres comigo,
não me prometa o amor eterno,
pois o para sempre é uma promessa que não se quebra
e promessas são feitas justamente para serem quebradas.

Enquanto estiveres comigo,

olhe fundo nos meus olhos,
porque não há como esconder mentiras debaixo dos longos cílios 
                                                                                   escuros e borrados
                 
            - a pureza de minhas lágrimas não os deixaria mostrar                
                                                                                      inverdades.



Enquanto estiveres comigo

apenas te cala,
me abrace
e me beije
pois há estrelas explodindo lá fora
e ninguém notou isso além de nós dois.